O Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) comprovou neste
mês de novembro o que há anos já se sabia na teoria: o alto número de pacientes
trazidos pelas ambulâncias do interior é a maior causa da oscilante
superlotação da unidade. Um levantamento feito pelo setor de Classificação de
Risco, durante os meses de setembro, outubro e novembro, quantificou quantos
desses veículos trazem pacientes do interior e quantos são regulados pelo Samu
Natal e pelo Samu Metropolitano. Durante o mês de outubro, por exemplo, a
quantidade de ambulância do interior que chegaram ao HMWG (962), superou o
número somado de ambulância dos dois Samus (829).
O levantamento feito pela Classificação de Risco do HMWG
tomou como base para identificação da gravidade dos pacientes o Protocolo de
Manchester. O conjunto de normas, criado em 1994 na Inglaterra, associa uma cor
ao estado de saúde do doente e ao tempo necessário para o atendimento. A
correlação é estruturada da seguinte forma: Vermelho (emergente – atendimento
imediato), laranja (muito urgente – em até 10 minutos), amarelo (urgente – até
60 minutos) e verde (pouco urgente – até 120 minutos).
A classificação de risco também registrou quantos pacientes
do interior não deveriam ter vindo para o Walfredo Gurgel. Para se ter uma
ideia da quantidade de transferências irregulares, dos 962 pacientes atendidos
em outubro no Pronto Socorro Clóvis Sarinho, mais de 500 foram classificados
como verde. Ou seja, eram casos de baixa e média complexidade e que poderiam
ter sido resolvidos no próprio município de residência do doente.
A diretora geral do HMWG, Maria de Fátima Pereira Pinheiro,
explica que outro agravante do exorbitante número de doentes que vem do
interior é a falta de regulação. “Essas cidades enviam os pacientes de qualquer
forma, sem contato prévio, muitas vezes sem nenhum membro da equipe de
enfermagem. É uma grande irresponsabilidade o que fazem com essas pessoas”,
afirma.
Outro dado que choca é o do ínfimo número de pacientes
trazidos do interior que foram classificados como vermelho. Ou seja, que
realmente apresentaram quadro grave de saúde, o que justificaria sua vinda para
o Walfredo Gurgel. No mês de setembro, dos 351 Norte-riograndenses trazidos
pelas ambulâncias do interior, nenhum foi classificado como vermelho. Em
outubro, dos 962, somente cinco. E, até o último dia 18, dos 741, só 12 se
enquadraram no perfil de urgência e emergência.
Quando superlotado, pacientes internados nas áreas de
circulação do PSCS, macas presas do Samu, desabastecimento, sobrecarga de
trabalho dos funcionários, aumento no fornecimento de refeições para pacientes
e acompanhantes e na administração de medicamentos, são fatores que põem o
Walfredo Gurgel em constante estado de tensão, comprometendo uma melhor
assistência ao usuário do Sistema Único de Saúde (SUS).
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