
Na semana passada, Joaquim Levy, ministro da Fazenda, ouviu
de um amigo revelações sobre os bastidores da queda em 1992 do então presidente
Fernando Collor.
A certa altura, o amigo lhe disse: “Pois é, naquela época
tínhamos Ulysses Guimarães, um estadista, conversando com Itamar Franco, o vice
que sucedeu Collor. Hoje, quem temos?
Levy respondeu, irônico: “O Cunha?” No caso, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, desafeto assumido de Dilma e do
seu governo.
Eduardo é o segundo na linha de sucessão direta de Dilma. Se
amanhã ela cair, assume Michel Temer, o vice-presidente. Se os dois caírem,
assume Eduardo. E quem confia nele?
A fama de Eduardo sempre foi a de um político que ama tirar
vantagens de tudo. Agravou-se com as suspeitas que passaram a enlamear sua
reputação no rastro da Operação Lava Jato.
Até ontem, eram dois os delatores que acusavam Eduardo de cobrar
e receber propina. Apareceu mais um: Fernando Baiano, tido como operador do
PMDB no saque à Petrobras.
Em um dos seus depoimentos, Baiano confirmou o repasse de
propina a Cunha, que teria recebido US$ 5 milhões para facilitar a compra pela
Petrobras de dois navios-sonda da Samsung Heavy Industries.
Júlio Camargo, lobista da Samsung, havia contado que pagou,
ao todo, US$ 40 milhões a Cunha, ao próprio Baiano e ao ex-diretor da área de
Internacional da Petrobras Nestor Cerveró pela intermediação da compra dos
navios-sonda Petrobras 10000 e Vitoria 10000 — um negócio de US$ 1,2 bilhão.
Outro delator, o doleiro Alberto Yousseff, disse que, a
pedido de Camargo, ajudou repassar para Baiano parte da propina que teria como
destinatário final o presidente da Câmara.
O cerco a Cunha só faz se fechar. Inquérito contra ele corre
no Supremo Tribunal Federal (STF). Se o Procurador Geral da República oferecer
denúncia contra Cunha, e se o STF a receber, como ele poderá continuar
presidindo a Câmara?
É isso o que será arguido por seus adversários, para
felicidade de Dilma. Eduardo, naturalmente, alega ser inocente. Mas por que –
ora diabos! – três pessoas, assim do nada, contariam a mesma história escabrosa
a respeito dele?
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